sábado, 15 de maio de 2010

TARUMIRIM A HISTÓRIA ESQUECIDA - PARTE II

O distrito Tarumirim foi estabelecido pela lei estadual n° 556 de 30 de agosto de 1911, e instalado em 08 de junho de 1912, com as seguintes divisas: “Partindo da barra do córrego do Vai-Volta com o rio Caratinga e por este acima até a base do córrego Ponte Alta, na Sesmaria de Antonio Pedro da Silveira; por este acima ate os espigões em linha reta em direção ao poente,compreendendo as águas vertentes do Ribeirão Santo Estevão abaixo até a Barra do Rio Doce, descendo até a Barra do Ribeirão Thahíras e por este acima compreendendo todas as vertentes até o alto da Serra que divide as águas do Queiroga e Jataí, sempre por vertentes, até a Barra do Vai-Volta com o rio Caratinga” ( AMM, 2009).
Segundo a Associação Mineira de Municípios (2007), informações sobre o município de Tarumirim dão conta que o núcleo de povoação que deu origem ao município, foi criado por Antonio Cunha e seus irmãos no inicio do século XX e cresceu com a chegada de outros moradores, formando-se o povoado denominado Patrimônio do Cunha. Em 1911, o povo é elevado a distrito com o nome de Tarumirim, pertencendo ao município de Caratinga e tendo como “representante na câmara municipal desta cidade o senhor José da Costa Ferraz “(SAYGLI, 1997).
Mas a história administrativa do município começou antes. Seu território pertenceu ao Município de Manhuaçu e a partir de 1890 com a emancipação da cidade de Caratinga, passou a pertencer a esta. Perdeu-se muito da História de Tarumirim, mas lendo-se sobre os fatos da época pode-se concluir que muito da criação do lugar e posterior crescimento, provieram de lutas políticas regionais, especialmente na cidade anteriormente sede do Município; Caratinga. Desta, partiram inúmeras pessoas para compor a população do novo povoado. Dentre muitos pode-se citar o Dr: Joaquim Nóbrega da Motta, médico, fundador do jornal “Povo de caratinga”, militante do partido político “Bacural ou Figueirista” que veio para Tarumirim junto com outros, depois do fim do seu partido político “(SAYGLI, 1997).
Apesar da dificuldade em se compor um quadro explicitamente verídico da vida da cidade de Tarumirim no inicio do século, é de importante valia para a caracterização da época, a descrição da dinâmica da cidade de “Carangola” no início do século, feita por MERCADANTE, 1973 no livro “Os sertões do leste”.
“Na década de vinte há restos comuns em todas as comunidades, traços soltos da época pretérita. 0 Jardim, de árvores fortes, as ruas recém-calçadas, revelando o desassossego das tropas de animais, a cruzar as cidades com sacos de aniagem. Alguma vez, um rebanho, a manada revolta, invadindo o centro com estrépito e tumulto. Cavaleiros pelo dia, apeando do cavalo, de botas e espora, ou matutos tranqüilos trotando sem garbo. Os carros de boi em profusão, descarregando os macaqueiros chegados dos distritos para as compras no varejo.
Havia no tempo sobras de lutas e ressentimentos. Histórias e fatos misturando-se. Crimes e júris. As pretas velhas desfilavam casos com se fossem lendas.
Maio dir-se-ia mês de deslumbramento. As festas religiosas ganhavam um esplendor à altura das tradições. 0 hino à Maria, à sua pureza, ligava-se aos encantos das meninas. Para cada noite, as mãos de uma criança coroavam Nossa Senhora. 0 séquito caminhava em direção à igreja com luzes multicores. 0 altar armava-se num dos nichos, e após a reza, o cântico. Maria, a ser coroada, prendia-se ao centro de um céu de estrelas douradas. Meia lua de prata cortava a abóbada entre as cores vermelhas. Um pouco de barroco das Congonhas, renascido com graça nos Sertões do Leste.
Maio assistia alegremente às tradições. Nas festas religiosas, as barracas armavam-se com jogos de prendas Ao redor do Jardim, em allegro com fuoco, o espetáculo das congadas incorporava à paisagem da fé a presença do negro.
Mas na atmosfera de campanário a luta política endurecia os corações. Ressentimentos e olhares sólidos. O chefe do executivo descia pela rua principal. Vingavam-se, os adversários com sarcasmo, sonhando com revanche 0 foguetório explodia, saudando noticias e atenazando os inimigos. A revolução distante, de tempos a tempos, virando os poderes. Da capital à província a trajetória fazia-se por telegramas cifrados. De um ponto a outro, cercas de arame farpado dividiam as esferas. 0 poder separava. os homens adultos, tornava-os álgidos e duros.
Os rios da Mata atravessam a paisagem e o tempo. Desde as origens, cortam silenciosos as aldeias e cidades. rumo do mar. Seguem para o Doce ou Paraíba. Funclal Garcia pintou-os em épocas distanciadas, límpidos rolando na solidão dos descampados e turvos, mais tarde, quando a erosão lhes tingiu as águas. Temperamento agreste, sensibilidade sertaneja, traçou nas telas as veredas com gente quase afogada pela vegetação. Os ranchos humildes desbotam-se diante da ênfase com que carrega ele as tintas no traço do latifúndio”.

Nas décadas de 1930 e 1940, a estrada de ferro vitória-minas ajudou no povoamento da região, com seu grande fluxo de passageiros, sempre transportava pessoas que por aqui acabavam por ficar e fixar residência. Na década de 50, coube à construção da estrada Rio-Bahia, o impulso deste processo. A pavimentação do antigo caminho de tropeiros trouxe novo fluxo de mercadorias e pessoas para a região. Estava a partir deste momento, consolidada a abertura para conquista do território.

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