sábado, 15 de maio de 2010

TARUMIRIM A HISTÓRIA ESQUECIDA - PARTE I

Um Olhar Histórico Cultural.

O município de Tarumirim está ligado umbilicalmente ao Brasil. Não apenas pelo fato de estar localizado em posições geográficas que o colocam dentro deste país. Mas, por determinantes culturais que muito se assemelham no início da conquista da região onde está a cidade de Tarumirim ao do próprio país. “Gente transplantada, terra selvagem e fértil, cujo processo de gerar riqueza consistia em derrubar matas e queimar madeira” (Sodré, 1985). Isto tudo, para alimentar um comércio externo microrregional, tão pobre e limitado quanto o próprio mercado consumidor regional atual. Região de pecuária de gado de corte e leite, de exportação de mão de obra barata desqualificada, para o exterior, além mares. Cidade de muita gente pobre honesta e trabalhadora, mas, como o próprio Brasil, comandada por vezes ao longo da historia po uma insipiente pseudo-elite poderosa e manipuladora.
Como não podia deixar de ser tudo, toda esta dinâmica anteriormente exposta, influenciada e definida por uma conjectura nacional política administrativa, mas, mais política que administrativa.
O próprio “début” do antigo “Patrimônio do Cunha” como cidade, se deu em um destes (os quais são muitos) movimentos de centralização e descentralização administrativa do estado nação brasileiro. Por tudo isto é imprescindível à contextualização histórica da cidade e região contida neste Capítulo. Mesmo sendo esta breve e sintética questão histórica não é o objeto principal desta dissertação, mas, merece menção porque influíu e influi determinantemente no tipo de gestão ambiental hoje encontrada na cidade de Tarumirim e reproduzida em todas as cidades da micro-região.
Neste contexto, entendido o termo micro-região como, a unidade territorial na qual se desenvolvem processos típicos do desenvolvimento em quaisquer de suas dimensões (Sepúlveda,2005).
As terras onde se localiza o município de Tarumirim e todo o leste de Minas Gerais despertam interesse e curiosidade desde a chegada dos Portugueses no Brasil. A crença de que existiam riquezas foi o principal elemento impulsionador para as “entradas”, neste território. “A creditava-se em três lugares “Vapabuçu” do ouro (grande lagoa, lagoa dourada), “Sabarabuçu” ( Itaberaba-assu ou grande serra), e a “Serra das Esmeraldas”. A primeira das expedições foi a de Fernandes Tourinho em 1573, que saindo de Porto seguro com quatrocentos homens margeou o rio doce. A presença da floresta pluvial tropical ajudava a construir o mito, pois se o ouro, a prata e as esmeraldas não eram encontrados também não se podia dizer que não existiam “(ESPINDOLA, 2005).
Os povoamentos desde sempre foram às estratégias para ocupação dos territórios indígenas do leste de Minas, dele dependia o sucesso da abertura da navegação fluvial. O território onde hoje localiza-se Tarumirim até inicio do século 19 era habitado por índios, cujas principais etnias eram os Purí e Botocudos. Estes índios circulavam ao longo do rio doce, entre a foz dos rios Manhuaçu e Cuité, e subiam pelo rio Caratinga indo até a foz do ribeirão Sacramento Grande. Na localidade chamada de Bananal Grande, hoje atual município de Tarumirim. Existia ai um pouso, onde os índios de diversas tribos concentravam-se nas suas migrações sazonais. Neste local em 1827 o Sargento Norberto Roiz com um grupo de mais de 100 índios provavelmente da etnia Naknenuk encontrou Botocudo “peuruns” e com famílias desconhecidas os combateu. A motivação, provavelmente é devido ao ataque que estes promoveram á 14 ou 15 fazendas anteriormente (ESPINDOLA, 2005).
Neste mesmo local em 1856, com o fim da guerra ofensiva contra os índios, foi criado um destacamento de pedestre. Estes destacamentos eram forças militares de segunda linha, que pertenciam ao corpo de pedestres da província de Minas Gerais (ESPINDOLA, 2005).
A região de Tarumirim, desde 1808 á 1839, era responsabilidade da 6ª Divisão Militar do Rio Doce (DMRD) que a principio era encarregada da guerra contra os índios em suas diversas fases e estratégias, isto, sempre buscando a implantação da navegação comercial do Rio Doce.
Estas terras eram as mais embrenhadas nas matas. Uma das punições mais severas do período era degredar os criminosos para a região. Os que chegavam eram em sua maioria vadios, índios rebeldes, desertores que fracassaram em suas fugas, praças indisciplinados ou que cometeram crimes, assassinos e ladrões de toda espécie (ESPINDOLA, 2005).
A maior parte das pessoas que se dispunha a enfrentar este território sertanejo veio a contragosto. De uma maneira geral, era formada de mestiços e negros pobres, vivendo de culturas de subsistência, da caça, pesca e coleta. Gente ambiciosa, e ambiciosos de todo o tipo, aventureiros, oportunistas, jagunços, garimpeiros, prostitutas e fabricantes de aguardente, taberneiros, canoeiros de comércio de sal, tropeiros, juntando-se a praças das divisões militares e índios aculturados. À medida que se intensificava o povoamento de certas áreas, entravam em cena os especuladores, que logo tratavam de conseguir terras para vendê-las á um preço especulativo. Todos viviam numa região de estrutura social indefinida, e distante do poder, onde o que imperava era a violência de jagunços, matadores de aldeias e capitães do mato (ESPINDOLA, 2005).
No que diz respeito ao trato que se tinha com a terra não era muito diferente do que se observa nos dias de hoje. Quem chegava em sua maioria, não possuía apresso pela natureza e via tudo como uma paisagem terrivelmente opressora e embrutecia-se para suportar o meio ambiente adverso. Havia uma permanente “fome” de terras de mata. O solo era tratado como recurso descartável e não havia a idéia de preservar a sua fertilidade. Desta forma, não apenas a expansão, mas a própria manutenção do nível de atividade agrícola exigia o avanço sobre as áreas de floresta. As roças de pobre avançavam sobre a floresta. A queima da mata era o fator principal que impulsionava a ocupação (ESPINDOLA, 2005).
Em 1862 o governo mineiro dividiu o território da Província em circunscrições, mantendo no centro de cada uma, um contingente de pedestres. O poder público mineiro, sem abrir mão de seu domínio sobre o território, procurou reduzir os encargos da sua presença na região. A partir daí, os frades capuchinhos assumiram papel importante, substituindo em muito a figura do estado, depois que desapareceu o interesse econômico pela região (ESPINDOLA, 2005).
A formação de povoados aplicada na época, provavelmente foi à maneira que se deu também para a formação do núcleo populacional da cidade de Tarumirim.
Os povoados se formavam pela doação do terreno por parte de um potentado local, (no caso de Tarumirim a família Cunha) em torno de uma capela para a qual conseguia a autorização eclesiástica. A autorização era facilitada quando se tinha um padre secular membro da família ou se era o fazendeiro de maior poder, situação comum em Minas. Depois de construir o templo e doar o patrimônio canônico, em nome do santo de sua devoção ( no caso especifico de Tarumirim, São Sebastião) providenciava-se o arruamento, deixando-se espaço para a praça em frente à futura matriz e logo surgiam as primeiras casas. O doador e os demais fazendeiros também erguiam os seus sobrados, alguns tendo na parte térrea um estabelecimento comercial. A capela ficava subordinada a uma paróquia, até que o aumento da população criava condições para elevação à paróquia e construção de um belo templo, proporcional à riqueza local (ESPINDOLA, 2005).
A fixação inicialmente de moradores inicial na região foi bastante lenta, tendo seu inicio da dispersão demográfica espontânea provocada pelo declínio da antiga região mineradora. A população foi avançando e se estabelecendo perto dos pequenos cursos d’água. Desde o inicio das entradas na região, até o século XX a malária foi o grande obstáculo á efetiva ocupação das terras que margeavam o rio doce e seus afluentes inclui-se ai a região de Tarumirim (ESPINDOLA, 2005).
Este processo de invasão e conquista do Sertão do Rio Doce, se apagou da memória e da historia. No lugar, ficou uma narrativa centrada na memória da gente, que entrou para o sertão com a construção da estrada de ferro Vitória-minas, entre 1903 e 1950: fazendeiros, chefes políticos, oficiais militares, agentes de grandes empresas. A memória desses “pioneiros” narra uma historia turva de progresso linear, no qual as pessoas transformam um ambiente selvagem em beneficio do progresso e do bem comum (ESPINDOLA, 2005).

2 comentários:

  1. Olá Rômulo, por favor, qual é a referência de Espindola (2005)?

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  2. ESPINDOLA, Haruf Salmen. Sertão do Rio Doce. EDUSC, Bauru, SP: 2005, 488 p.

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